sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O.V.A.C.E.

Cinco minutos e cinquenta segundos foi o tempo em que levamos para reanimar o Sr. V, após ter sofrido um engasgo. Conhecemos como OVACE (Obstrução de Vias Aéreas por Corpo Estranho). O fato se deu em um estabelecimento comercial, sob a vista de muitas pessoas, a maioria colegas do Senhor V. que, apesar de  pouco tempo de manobras, está fadado a um leito por tempo indeterminado. Uma hora bom, nos minutos seguintes sua vida se transforma. A sua e de mais um monte de gente!
É um assunto triste, deveria inspirar o texto que se segue. Mas já não sinto tristeza e tampouco alegria. Sinto apenas que meu papel é o de mero coadjuvante nessa história toda, como um instrumento mal feito para a execução de tarefa laboriosa.
O Sr. V. tem uma vida toda por trás desse esse episódio, o OVACE. Ele tem filhos, esposa, netos, um passatempo preferido, um gosto por determinado tipo de música, um emaranhado de opiniões sobre o mundo, um par de ideias na cabeça, um grande apreço por certo amigo, talvez uma desavença sem sentido (boba mesmo) por outro. Tem um animal de estimação que o estima muito e que sentirá sua falta hoje à tarde. É convicto de que pertence a um determinado grupo, mas não sabe dizer com certeza qual é. Sabe da existência de Deus, porque assim lhe ensinaram, mas tem algumas pendências a serem examinadas futuramente. Seria agora?
O mundo está cheio de letras do alfabeto, que inevitavelmente se cruzarão com algum termo da medicina, para se juntarem e escreverem palavras, palavras que se escrevem nos minutos seguintes, que sempre se sucedem a horas, boas ou ruins. Como o Senhor V., que foi vítima de OVACE, num minuto posterior em que tudo (ou quase) estava bom.
Agora vem a espera e o desejo de que tudo ocorra de bom na vida da família do Sr. V., assim como na dele mesmo.
O futuro é muito incerto, e isso é uma certeza.