domingo, 20 de março de 2011

Ensaio Sobre a Morte


“Quereis conhecer o segredo da morte. Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?
A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o mistério da luz.
Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas de vosso coração ao corpo da vida.
Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa.
Na profundeza de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso conhecimento do além; e como sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera.
Confiai nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.
Vosso temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando comparece diante do rei, e este lhe estende a mão em sinal de consideração.
Não se regozija o camponês, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?
Contudo, não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida?
Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?
E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente?
É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.
É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.
É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.” 

Gibran Khalil Gibran.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Visão dos Espaços

    Vastidões de beleza intraduzível,
    Fulgurações entre cósmicos flagelos,
    Ideações de fúlgidos castelos
    Onde mora a beleza indefinível.
    -
    Ansiedades trágicas, supremas,
    Na formação das grandes nebulosas...
    Transubstanciações misteriosas
    Gerando os organismos dos sistemas.
    -
    Focos de potentíssima atração
    As moléculas e átomos dispersos,
    Nos elementos de elaboração
    De grandiosos e lindos universos.
    -
    Luminosas esteiras de cometas,
    Formosos em elipses prolongadas,
    Graciosas figuras de planetas
    Emergindo das cósmicas camadas.
    -
    Meteoros celestes, deslumbrantes,
    Nas excelsas alturas transcendentes,
    Onde vibram os sóis incandescentes,
    Asteróides e estrelas fulgurantes.
    -
    Intensidade bela de harmonia
    Que agora sinto, vejo e que percebo,
    Grandiosidades do que não concebo
    Nos apogeus das hiperestesias.
    -
    E, sobretudo, emanam das esferas
    Os equilíbrios das imensidades,
    O eterno canto de sublimidades,
    Clarões de luzes nas atmosferas...
    -
    Sobre todas as coisas assombrosas,
    Fluídos e criações de pensamentos,
    Todas as maravilhas e portentos,
    Há uma luz entre as luzes mais radiosas.
    -
    É o clarão poderoso, indestrutível,
    Que vem das profundezas do passado
    A luz de Deus, à força do incriado
    Na exteriorização indescritível.
    (Augusto dos Anjos, psicografia de Francisco Cândido Xavier em Lira Imortal)